Treze pessoas
foram presas temporariamente nesta terça-feira (9) durante a Operação Fratelli,
em todo o estado de São Paulo. A operação desmantelou uma organização criminosa
que desviava recursos públicos federais e estaduais por meio de fraudes em
licitações. De acordo com a Polícia Federal (PF), os suspeitos foram presos nas
cidades de Votuporanga, Neves Paulista, Uchoa, Tanabi, Olímpia, Fernandópolis,
São José do Rio Preto, Campos do Jordão e na capital paulista. O Ministério
Público de São Paulo informou que um dos presos é ex-prefeito. Com ele os
policiais encontraram munição de fuzil e várias armas sem registro.
Durante a operação, segundo a PF, foram cumpridos ainda 160 mandados de busca e
apreensão em residências e empresas localizadas nas cidades paulistas de
Araçatuba, Assis, Barretos, Catanduva, Floreal, Icem, Lins, Mirassol, Monções,
Novo Horizonte, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, São Paulo, Tanabi, Três
Fronteiras, Votuporanga, Mendonça, Auriflama, Nhandeara, Sebastianópolis do
Sul, Planalto, Ubarana, Guzolândia e Sud Mennucci. Os policiais apreenderam 22
armas e munições, computadores, R$ 560 mil em dinheiro e centenas de
documentos.
Segundo o procurador da República de Jales (SP) Thiago Lacerda Nobre, o nome da
operação, Fratelli, deriva de uma palavra italiana que significa fraterno ou
irmandade, forma como a operação foi deflagrada, reunindo vários órgãos como o
Ministério Público Federal, a Polícia Federal e o Ministério Público de São
Paulo.
“Desmantelamos uma das maiores quadrilhas de malversação de recursos públicos
da história deste país. Ela atuava em convênios tanto estaduais como federais.
Na área federal, eram convênios oriundos do Ministério das Cidades e do
Ministério do Turismo. Segundo levantamento preliminar, o número de valores em
convênios que tiveram a manipulação de recursos, ou seja, a gestão total de
recursos, chega à casa estimada de R$ 1 bilhão, o que não significa que tudo
isso foi desviado”, disse o procurador em entrevista à Agência Brasil. organização criminosa atuava, pelo menos, desde 2007 e reunia principalmente
um grupo de empreiteiras do ramo de pavimentação asfáltica que manipulava
licitações públicas em municípios do interior paulista, simulando competição
entre si, com o objetivo de superfaturar as obras.
Segundo o procurador, a quadrilha era “extremamente sofisticada”. De acordo com
ele, a organização tinha “um grande grau de articulação política” e “livre
trânsito em divers áreas do poder municipal, estadual ou federal”. Apesar
disso, acrescentou o procurador, a operação não investigou ainda pessoas que
tenham foro privilegiado tais como políticos. “Um esquema tão robusto quanto
esse não se sustenta por tanto tempo sem a participação de agentes públicos.
Existem indícios de que agentes públicos federais participaram do caso, mas
nosso objetivo de investigação foi apenas agentes sem escopo ou prerrogativas
de função, ou seja, pessoas que podem ser investigadas e processadas no
primeiro grau”, disse o procurador.
Segundo ele, a organização criminosa tem, pelo menos, 40 empresas entre
empresas do próprio grupo ou parceiras. Cada empresa com uma função previamente
delimitada. “Algumas delas, por exemplo, tinham a função de entrar em
licitações para perder”, explicou. O procurador citou uma empresa que tinha
capital social da ordem de R$ 20 mil e disputava licitações que passavam de R$
140 mil. “Juridicamente, isso é impossível. E só se tornou possível, essa
maquiagem de licitação, com o conluio evidente de agentes públicos envolvidos
no esquema”, disse Nobre. De acordo com ele, mais de 100 municípios paulistas
são suspeitos de participação na fraude. Segundo o Ministério Público de São
Paulo, o núcleo do esquema ficava em Votuporanga.
O esquema para fraudar as licitações, segundo o procurador, atuava organizadamente.
“Sabemos que a regra para a administração pública contratar é a concorrência,
uma licitação que busca o melhor preço e o melhor serviço. Algumas empresas do
mesmo grupo, com sócios em comum ou com nomes de laranjas ou empresas fantasmas
ou empresas parceiras, disputavam entre si aquela licitação. Mas o que eles
tinham eram uma falsa disputa, uma simulação de disputa. Era, na verdade, um
jogo de cartas marcadas que já estava ganho”, explicou Nobre.
Os investigados, segundo o Ministério Público, poderão responder pelos crimes
de fraude à licitação, desvio de verbas públicas, corrupção ativa e passiva e
formação de quadrilha.